História de Sucesso - Rejane Sbrissa
“Mais que emagrecer, eu queria ser feliz”
Rejane foi uma adolescente triste. Mas, hoje, ela é uma mulher realizada. Seu segredo? Emagreceu 24 quilos à base de dieta e terapia. E mantém o peso com sucesso há 20 anos.
Muitas pessoas que entram no consultório da psicóloga Rejane Sbrissa à procura de uma terapia para ajudar no emagrecimento – sua especialidade – falam a mesma coisa: “Mas você é magra, como vai poder entender meus sentimentos em relação à gordura?”. O que elas ficam sabendo logo é que Rejane nem sempre teve os atuais 51 quilos espalhados em 1,62 metro de altura. A partir dos 15 anos, começou a comer muito e, claro, engordar. Resultado: dedicou a melhor parte de sua adolescência – dos 15 aos 19 anos – convivendo com mais de 20 quilos extras. Fazendo uma retrospectiva de sua vida, a psicóloga atribui sua gordura principalmente ao fato da mãe tê-la levado aos 5 anos a um médico para tomar vitaminas, porque achava que ela era magrinha; e à separação dos pais, que aconteceu quando ela tinha 13 anos. “Eu era estudiosa. O ano em que meus pais se separaram foi o único em que repeti na escola. Naquela época isso não era comum e eu me achava diferente dos meus amigos; tinha vergonha de falar sobre as condições de meus pais. Assim, acabei descontando na comida.” E ela descontava para valer.
COMPULSÃO E VERGONHA
Hoje, ao lembrar do quanto comia, ela faz cara de nojo. É fácil entender a reação. Rejane era vidrada em doces e sorvetes. Vendo TV, dava conta de uma lata de sorvete de 2 litros, 1 litro a cada intervalo, com muita cobertura. Toda tarde ia à padaria perto de casa e comprava sonhos e pães recheados. Essa era uma das poucas vezes em que saía, já que os quilos acumulados a tornaram uma menina triste, isolada, tímida. Cada vez que se dirigia ao caixa para pagar as guloseimas se sentia envergonhada. “Parecia que eu estava cometendo um pecado. Eu achava que todos me olhavam e recriminavam. Daí, comecei a comprar os doces fingindo que não era para mim.”
A fixação pela comida era reforçada pelos hábitos em casa. Seu pai, que sempre foi gordo, era exagerado em relação à comida: “Se ele ia à feira, por exemplo, de todas as frutas queria a maior. O ovo era daqueles de duas gemas.” Após a separação, para agradar os filhos, ele os enchia de comida. A mãe não ficava atrás e se esmerava na cozinha fazendo os pratos preferidos de todos.
SEM NOÇÃO DO PRÓPRIO TAMANHO
Rejane engordou 24 quilos rapidamente, em cerca de um ano. Dos 16 aos 20, ficou praticamente estacionada nos 75 quilos e manequim 48. Nesse período, não pensou em fazer regime nem procurar um especialista. “Eu sabia que estava gorda, mas não tinha idéia exata do quanto. Eu não me pesava nem me olhava no espelho. Na verdade, eu procurava não ter a consciência do problema porque senão seria forçada a tomar uma providência a respeito e eu não tinha força nem condições psicológicas.”
Dá para imaginar todas as suas tristezas e maus momentos. Da vergonha de ir à praia à frustração na hora de comprar roupas. O primeiro beijo foi só com 20 anos, aos 55 quilos. Até então, não se aproximava de nenhum rapaz, se achava feia e incapaz de chamar a atenção do sexo oposto. Apesar de nunca a terem pressionado para emagrecer, os pais se preocupavam com seu peso e tentavam alertá-la. E quanto mais comentários faziam, mais ela comia. Assaltava a geladeira depois de todos irem dormir, e todo o dinheiro que ganhava gastava com comida. Ela lembra que chegava a passar mal do estômago e do fígado. “Mas quando o mal-estar ia embora eu já procurava algo para comer novamente. E ficava cada vez mais angustiada, triste, magoada.” Para completar, não fazia (e não faz) nenhum exercício.
ENFIM MAGRA, MAS INFELIZ
A hora em que resolveu virar a mesa ainda está bem marcada na memória de Rejane. Isso faz 11 anos. “Era uma Sexta-feira à tarde e eu tinha acabado de tomar banho. Fui ao quarto de minha mãe, que era o única que tinha um espelho grande, tirei a toalha e comecei a reparar no meu corpo. Passei as mãos pela barriga, seios, quadris e vi o tamanho que eu estava. Foi aí que deu um ‘clique’. Olhei para mim e falei: ‘Eu não posso continuar assim porque não estou feliz. Que vai ser da minha vida daqui em diante se eu não fizer alguma coisa agora?’”. Esse despertar foi tão forte que ela iniciou uma dieta na mesma noite.
Na Segunda-feira, marcou hora com o médico de uma tia e após os exames de praxe constatou que não tinha nenhum problema orgânico que levasse a engordar. Então, o negócio era controlar a comida. E foi o que ela fez. No primeiro mês, como era de se esperar, emagreceu bastante: 8 quilos. Por orientação médica, submeteu-se a uma operação plástica de redução nos seios a fim de evitar possíveis problemas na coluna. Depois disso, o ritmo abaixou para uma média de 1 quilo e meio por mês. Remédios só tomou nos primeiros 30 dias; a partir daí decidiu contar só com sua motivação. À medida que o ponteiro da balança recuava, Rejane se sentia melhor, porém infeliz. Ela se deu conta de que precisava cuidar dos sentimentos e sensações que estavam reprimidos, abafados, antes mesmo de se preocupar com o problema do peso. Foi então que procurou uma terapia, paralelamente à faculdade de psicologia.
A TERAPIA AJUDOU NO PROCESSO
“A terapia foi essencial. À medida que emagrecia, via que não era o bastante. O corpo magro, claro, ia me deixar melhor, mas eu tinha que resolver o meu interior.” Em 4 anos de análise, trabalhou a questão da separação dos pais, a timidez em excesso e, enfim, aprendeu a se conhecer.
Rejane chegou aos sonhados 51 quilos em cerca de 1 ano, não sem antes ter que superar os inevitáveis desânimos, gerados pela perda de peso que considerava lenta. Às vezes, tinha impulso de comer e atacava o sorvete. Mas no dia seguinte retomava a dieta. “Eu procurava conversar comigo e valorizar todo o esforço e os quilos perdidos.” O maior descontrole aconteceu quando estava com 23 anos e foi para os Estados Unidos estudar inglês. A distância de casa e a ausência de amigos, tudo isso numa terra estranha, levou-a de volta à comida. A diferença é que desta vez foi consciente. Rejane sabia que estava descontando suas dificuldades na alimentação e se permitiu. Ela voltou ao Brasil com 57 quilos e no dia seguinte correu para o seu médico. Em um mês não só perdeu os quilos adquiridos como emagreceu mais, batendo nos 47 quilos. “Fiquei muito magra e quis retornar aos 51.”
O medo de engordar novamente a fez redobrar a vigilância e desenvolver um hábito que mantém até hoje, 10 anos depois. A psicóloga anota diaramente em sua agenda tudo o que come. Outro costume que desenvolveu foi o de continuar indo ao médico pelo menos a cada seis meses. “Anotando o que eu como sei quando me descontrolo um pouco e compenso. E ir ao médico me ajuda psicologicamente. Sinto que é importante manter este vínculo com alguém em quem eu confio.”
MAIS INDEPENDENTE, VAIDOSA, FELIZ
O novo corpo refletiu diretamente no seu modo de ser e agir. Rejane ficou mais vaidosa, preocupada com a aparência. Hoje, no seu armário, só entram roupas justas, blusas curtinhas, shortinhos e minissaias. As festas, praias e piscinas se tornaram uma paixão. Ela ficou também mais independente. Antes, deixava a cargo do pai qualquer responsabilidade maior. “Ele abriu minha conta no banco e fazia tudo por mim: depositava, tirava extratos, ia à agência. Quando emagreci, passei a querer cuidar da minha vida.” A silhueta esbelta trouxe ainda a surpresa das paqueras de amigos que antes nem olhavam direito para ela. A psicóloga chegou a perder amigas, que ficaram com ciúmes. Foi aí que percebeu a diferença que a gordura faz e como acaba discriminando as pessoas.
Até no campo profissional sua vida está relacionada com emagrecimento. Ela começou a tratar obesos e acabou gostando. A experiência pessoal e profissional fez com que Rejane formasse uma opinião bem definida quanto à perda de peso: “O importante é cuidar da cabeça. O corpo é consequência. Mas a pessoa precisa estar determinada e querer mesmo emagrecer, o que nem sempre é fácil. Depois, é se empenhar em manter, como eu estou fazendo há 10 anos. Feliz e realizada”.